Matéria é republicada por portais da região e jovem acumula mais de 400 mil visualizações com vídeos de rotina
Ana Clara Magro (repórter), Enzo Mingroni (fotógrafo) e Maria Clara Catuchi (pauteira e editora)
19/09/2025, às 16h45

De segunda a sexta, o dia dele começa na faculdade às 7h30 e encerra às 17h, onde passa 8 horas rodeado por livros, aprende conceitos do corpo humano e participa de práticas em laboratório. Após as aulas, ele troca o jaleco pelo uniforme de coletor e percorre 30 km pelos bairros de Presidente Prudente até meia-noite. Essa é a rotina de Guilherme da Silva Mazini (24), estudante de Medicina da Unoeste que concilia os estudos com o serviço de limpeza urbana e ganhou destaque nas redes sociais após ter sua trajetória contada por um portal de notícias da região.
Impulsionado pela publicação da reportagem, o perfil de Guilherme ultrapassou a marca de 11 mil seguidores (até a publicação da matéria) e ele passou a receber diversas mensagens de apoio. Decidiu aproveitar a visibilidade para compartilhar mais sobre sua rotina e, com poucos vídeos publicados, já acumula mais de 400 mil visualizações na plataforma.
“Eu sempre gravava para mim mesmo, mas senti a necessidade de colocar a cara e compartilhar, porque é sobre mostrar que estou fazendo acontecer e inspirar as pessoas positivamente”, explica.

Como a maioria das matérias, essa chegou às páginas do veículo inesperadamente. A repórter Beatriz Jarins relembra quando retornava para casa após o serviço e encontrou um vizinho que esperava o caminhão de coleta. No meio da conversa, Guilherme juntou-se aos dois e compartilhou sua vivência, despertando na jornalista a vontade de dar voz a uma história que merecia ser ouvida.
“Minha ideia sempre foi divulgar ‘a arte de tecer o presente’, como diz Cremilda Medina. Essa troca entre o repórter e a fonte, a reportagem e o público, é muito valiosa e o jornalismo mostra a realidade, às vezes brutal, do factual, mas também tem o lado sensível, acolhedor e inspirador”, declara Beatriz.
Apesar de não conseguirem trocar contatos na ocasião, cerca de seis meses depois, em agosto, Guilherme procurou a produção do portal e concretizaram a entrevista, sem imaginar o tamanho dos resultados. “Nós da equipe até imaginávamos certa repercussão, mas sempre é uma expectativa, sabe? No caso da reportagem com o Guilherme, foi positiva, outras páginas republicaram a história e, principalmente, o próprio Guilherme se sentiu agradecido pela oportunidade. É isso que importa!”, ressalta Beatriz.

Que história é essa?
Guilherme nasceu e mora atualmente em Prudente, mas passou parte da infância em Santo Anastácio, sempre ao lado da irmã Júlia da Silva Mazini e sempre tendo como exemplo a mãe, Sueli Correia da Silva. Ela iniciou sendo empregada doméstica e migrou para a área da saúde, ao se formar como auxiliar de enfermagem e trabalha há quase 30 anos no Hospital Regional (HR).
Esse foi o pontapé inicial para Guilherme conquistar uma bolsa de 100% pelo ProUni e ingressar no curso de Enfermagem em 2020, começando a atuar na área no Hospital Iamada, após ter sido estoquista em farmácia e promotor de vendas em supermercado. “A saúde sempre foi minha escolha número um. Acho que tenho vocação por gostar de cuidar das pessoas, estar disponível, ajudar. Sempre tive isso comigo”, ele afirma.

Por volta de outubro de 2022, passou a equilibrar o período final da graduação em Enfermagem e o emprego no centro cirúrgico com mais uma ocupação: coletor de lixo. Apesar da rotina exaustiva, segundo ele, cada experiência foi essencial para seguir em frente e realizar o sonho de cursar medicina, entrando no início de 2025 na Unoeste por meio do FIES, e pagando parte dos custos com o salário da coleta.
“Eu até falo: eu não sou coletor, eu estou coletor. Sou médico em formação, graças a Deus. Mas devo muito à coleta, porque me ajudou a seguir estudando e a me manter”
– Guilherme Mazini.
Em relação ao futuro, Guilherme conta que tem um caminho bem definido: se especializar em psiquiatria. A escolha vem da percepção de que muitas doenças físicas estão ligadas à saúde mental, e da vontade de auxiliar pessoas a não desistirem delas mesmas. “Meu objetivo não é só me formar, é ajudar as pessoas a terem uma visão melhor de si mesmas, a se recuperarem. Acho que isso nasceu da minha vivência e da vontade de transformar a dor em cuidado”, complementa.