BBB20: O sucesso de uma edição marcada pela era da comunicação digital

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28/05/2020 às 14:00
Heloísa Lupatini, Jady Alves, Letícia Petile e Vinícius Coimbra

O Big Brother Brasil é um reality show de confinamento transmitido pela Rede Globo desde o ano de 2002. A atual premiação é de 1,5 milhão ao primeiro colocado (Foto: Reprodução/ Rede Globo)

Durante muito tempo, os programas de entretenimento eram considerados passatempo para muitas pessoas. Entre eles, os realities shows têm destaque nas telinhas pela transmissão 24 horas e as dinâmicas dos programas. Exibido pela Rede Globo, o Big Brother Brasil (BBB) faz grande sucesso em suas edições anuais, no entanto, a de 2020 teve vários diferenciais, como altos índices de audiência e quebra de recorde no Guinness Book.

O formato do programa foi o mesmo durante as 18 edições anteriores, o que fez com que a audiência se acostumasse. Porém, neste ano, entraram na casa, além dos tradicionais inscritos, convidados famosos.

Para garantir o sucesso do programa, a emissora utilizou de alguns artifícios da comunicação televisiva, dentro do modelo de negócios da televisão. Um deles foi o product placement, que é quando a marca aparece no reality. “A gente observou muito as provas da Fiat, para ganhar a Picape Toro 2020. A marca paga para fazer isso, e aí ela entra no cotidiano do reality”, comenta Matheus Monteiro, professor do curso de Publicidade e Propaganda.

“Uma das coisas que eu mais fiquei interessado, foi a questão da Americanas.com fazer o product placement e disponiblizar um QR Code para o telespectador ir atrás da oferta”, relata o professor. Matheus ainda diz que isso é uma tendência na publicidade dentro do merchandising, pois, antes da era de convergência, as pessoas falavam sobre a oferta e o público tinha que ir atrás, mas agora tem a possibilidade da interação instantânea.

ESTRATÉGIA DE MARKETING

O método de jogo adotado por alguns participantes foi o que despertou a atenção da professora de marketing, Priscila Guidini, no reality. Ao analisar o comportamento dos famosos ao entrarem no programa, ela pôde observar que o intuito da grande maioria era fazer carreira dentro do BBB. Agora, com o fim da edição, nota-se o sucesso desta estratégia.

O patrocínio recebido pela emissora é algo comum quando se trata deste tipo de programa. No entanto, a professora acredita que o alto valor arrecadado na edição de 2020 deu-se pela audiência superior e o fato de pessoas influentes estarem envolvidas no elenco.

“Ao meu ver, acreditava-se que os famosos iriam trazer o público da internet para acompanhar a TV. Mesmo se isso não acontecesse a princípio, os internautas continuariam nas plataformas digitais e os patrocinadores teriam suas marcas divulgadas nessas mídias, sendo este um dos motivos da audiência explodir”, comenta.

Apesar da vantagem em seguidores, Priscila comenta que as atitudes dos famosos no decorrer do programa fizeram com que a distância para os inscritos diminuísse, tanto que a vencedora acabou sendo uma participante anônima. “A prova disso é que a participante que entrou com o maior número de seguidores saiu logo nas primeiras semanas”, afirma a professora.

A chegada da quarentena devido à pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) intensificou a audiência do programa, sendo até mesmo prorrogado por quatro dias com o intuito de segurar os índices alcançados pela emissora.

“O isolamento trouxe o grande ‘boom’ para a Rede Globo, que se encontrava impossibilitada de dar continuidade às gravações de novelas e programas de auditório. Com isso, a ideia era adiar a final da edição, pois estava dando certo, além de faturar ainda mais com patrocinadores”, relata.

FEMINISMO

A edição 20  do programa contou com vários momentos cruciais e um deles, em específico, trouxe um diferencial. “Ver em um reality show que as participantes femininas se uniram para confrontar um problema que afeta a tantas também no ambiente externo, foi o que mudou a visão desta edição”, comentou Jennifer Borges, atendente publicitária.

Em determinado momento, a sororidade se fez presente no BBB e isso conquistou um grande público feminino. “As mulheres aqui fora começaram a se identificar mais com as participantes, levando muitas a comentar que não teriam uma atitude diferente e isso nos mostrou o quão importante e significativo é estarmos juntas para acabar de vez com problemas como esse”, acrescenta Jennifer.

Quando paramos para analisar os ganhadores das 19 edições, percebe-se que a maioria deles são homens, entretanto, de 2011 para cá, as vitórias vêm sendo de mulheres, com exceção dos anos de 2012 e 2015. Mulheres estas que agora ocupam lugares que antes não eram possíveis. Jennifer diz que com os movimentos femininos, as mulheres estão criando mais confiança, união e obtendo mais voz e lugar de fala.

“Estamos criando maior identificação umas com as outras e tendo mais representatividade. Hoje somos presidentes, CEO de grandes empresas, empreendedoras e somos também ganhadoras de grandes reality shows, porque queremos ver mais mulheres batalhadoras tendo sucesso e conquistando aquilo que elas almejam”, finaliza.

A CAMPEÃ

O jornalista e ex-facoppiano Evans Fitz foi um dos responsáveis por tornar Thelma Assis campeã do BBB20. O jovem negro de 24 anos virou noites em claro puxando mutirões, criando memes e administrando um fã clube no Twitter com cerca de 28 mil seguidores dedicado à participante que ele mais se identificou nesta edição.

Ele acompanha o BBB desde sua edição de estreia e notou na temporada de 2020 uma diferença no posicionamento dos participantes em relação aos anos anteriores, fato que fez os telespectadores compararem suas personalidades e histórias com a de pessoas dentro do jogo.

“Quando alguém entra no Big Brother, muita coisa sobre a vida dela surge nas redes, a história da Thelma é muito próxima ao que eu passo, foi uma identificação sociocultural, uma questão de etnia e isso me marcou muito”, ressalta.

Evans ficou responsável por comandar mutirões de votos pelo Twitter e WhatsApp, colocando uma meta a ser batida de hora em hora, quando Thelma estava no paredão. No ano anterior, o jornalista também havia administrado um fã clube com a mesma rotina para o participante Danrley, que foi eliminado na oitava semana da 18ª edição. 

O “Big Sister Brasil”, como ficou conhecida a temporada de 2020, foi dominada pela participação feminina. Para Evans, isso mostra aos telespectadores que a sociedade revê seus valores e fica ao lado das mulheres.

“Os ‘juízes da internet’ conquistaram um público militante, então tiveram vários cancelamentos ao decorrer da edição, como por exemplo o de todos os meninos ao armarem um plano machista a fim de prejudicar as meninas no jogo. Isso me fez pensar que eles não merecessem estar no programa”, finaliza.

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