Entenda como a moda significa liberdade de ser e de expressão

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Abner de Souza (editor), Rodrigo Gonçalves (repórter) e Sabrina Vansella (repórter), especial para a Escola de Comunicação
14/04/2022 às 8h

A elegância tem se tornado uma forte aliada para a liberdade de expressão (Foto: Cedida/Matheus Honório)

Ao pensarmos em moda, automaticamente lembramos daquilo que é tendência em roupas, sapatos e acessórios, mas o conceito desse termo vai muito além disso. Quando analisado a fundo, começamos a entender que a maneira de se vestir pode expressar quem realmente somos. 

Matheus Honório, de 25 anos, é jornalista, especialista em Cinema e Produção Audiovisual e ex-aluno da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Unoeste. Para ele, o estilo vai além de acessórios e roupas. “A moda é uma forma de auto expressão. Entrelaçando a identidade, o estilo evolui a cada parte da vida. Então, sempre estou construindo a minha identidade de estilo”, pontua.

Ele conta também que se identifica como queer. Matheus explica que é diferente de homens ou mulheres gays, porque muitas vezes esses grupos seguem padrões heteronormativos. ”Ser queer é ser você mesmo. Vestir o que gosta, se expressar e ser autêntico.”

Para o jornalista, duas das suas maiores inspirações são mulheres negras. A primeira é a atriz brasileira Zezé Motta, conhecida por seus visuais considerados progressistas nas décadas passadas. Já a segunda é a modelo e atriz britânica Naomi Campbell, referência por seus looks extravagantes. 

Estamos aqui, somos queer

Ser queer é estar fora dos padrões socialmente impostos.

O termo “queer” tem sua origem na língua inglesa antiga e significa “peculiar” ou “extravagante”. A partir dos anos 1980, com o avanço e crescimento da visibilidade LGBTQIA +, a palavra começou a ser ressignificada. O que anteriormente era usado como ofensa, passou a ser atribuído a uma identidade legítima.

Queer”, atualmente, se refere a todas as pessoas que não se encontram dentro dos padrões heteronormativos. Sejam homens ou mulheres, o termo engloba todo um grupo que não se identifica com as normas de gêneros. Esses princípios  podem ser em questões de atração emocional, orientação sexual e identidade.

Parecendo bem, sentindo-se bem

Nem sempre a moda é sobre quebrar padrões, em alguns momentos passamos apenas a atender às próprias vontades. Para o estudante de Design da Unoeste, Bruno Coelho, de 22 anos, esse dia chegou na adolescência, quando vestiu algo que a sociedade considerava e considera incomum para um menino: uma saia. Foi nesse dia que ele se sentiu “livre e lindo para usar o que quiser daqui para frente”.

Bruno comenta que Vivienne Westwood, Karl Lagerfeld, Harry Styles e algumas divas pop são suas maiores inspirações de estilo

A partir disso, a saia passou a ser a peça favorita, fora do meio heteronormativo, de Bruno. “Minhas pernas ficam livres, posso dançar, fazer movimentos livres, além de que são fáceis de combinar com roupas e acho elas muito lindas”.

Para deixar de ouvir o que é aconselhado desde o nascimento é preciso arriscar. Bruno afirma que já sentiu medo de ser ele mesmo, mas aconselha: “sempre vai ter alguém pra falar alguma coisa, mas não devemos ter medo de ser aquilo que somos, usar aquilo que queremos e que nos faz bem só porque outras pessoas podem não gostar”.

Roupa tem gênero?

As roupas também são uma forma de se expressar. “Afinal, é tudo tecido da mesma forma, qual a razão de um corte diferente definir se podemos ou não usar só pelo nosso gênero?”, questiona Bruno. 

Muitas pessoas acreditam que a maneira de se vestir determina a orientação sexual, mas isso é um mito. A sua orientação sexual diz respeito à atração, já a maneira de se vestir está ligada à expressão de gênero que pode ser fluida e mutável.

Bruno conta que, quando utilizou saia em uma viagem à São Paulo, recebeu vários elogios (Foto: Cedida/Bruno Coelho) 

Descubra quem você é

Guilhermina conta que o que a fez se conhecer melhor foi parar de pensar na aprovação e validação dos outros.

Diferente de Matheus e Bruno, a estudante de Design da Unoeste Guilhermina Batista, 21 anos, não se identifica como uma pessoa queer e sim como travesti. Ela conta que ao utilizar algumas peças de roupas e maquiagem se sente empoderada. A estudante também relembra como foi sua primeira vez utilizando uma roupa considerada feminina. 

“Eu tinha uns 14 anos, estava sozinha na casa da minha avó paterna. Estava passando Burlesque, filme da Cher e da Christina Aguilera, e tinha uma cena que falava sobre se maquiar e tudo mais. Eu peguei as maquiagens da minha vó e umas roupas e me ‘produzi’, me sentindo uma diva burlesca naquele dia. Olhei pro espelho e vi uma parte de mim que eu gostaria de conhecer melhor, que eu me sentia mais confortável”, pontua.

Guilhermina também cita que ainda não encontrou seu estilo para se expressar completamente. “Ainda não me encontrei totalmente. Na verdade, não sei se isso um dia vai acontecer, porque a gente tá sempre mudando, né?”. Ela diz que atualmente se inspira muito nos seriados Gilmore Girls e Maravilhosa Mrs. Maisel

É ela, dela, aquela

Vale ressaltar que pessoas que se identificam como travestis, não são “homens vestidos de mulheres”. Travesti se enquadra como uma identidade de gênero legítima, mesmo que muitos ainda tentam apagá-la. “Vivemos num cenário melhor, mas o Brasil ainda continua sendo o país que mais mata LGBTQIA + no mundo”, destaca Guilhermina.

Travestis são pessoas designadas ao gênero masculino quando nascem, mas se reconhecem na identidade feminina ou não-binária (Foto: Cedida/Guilhermina Batista)

Ela ainda comenta que não é preciso desistir de ser quem você de fato é, pois nunca estará sozinho. “Eu sei como é, eu entendo a sensação de medo também. Eu ainda sinto medo, de vez em quando”.

A futura designer pontua também citando uma frase da série Sense8. “Esse sentimento de medo vem das pessoas dizerem que quem nós somos está errado. Mas não é, hoje eu “marcho” pela pessoa que eu era e pelas que não podem marchar”, conclui.

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