Ana Flávia Martin e Gabriel Bonfim, especial para Escola de Comunicação

Para muitas pessoas, acreditar em algo é uma forma de tornar a vida menos vazia. Desde pequenos, tentamos descobrir o nosso propósito e qual é o significado da vida, que não veio com um manual de instruções.
O ser humano é incapaz de responder questões tão particulares, por isso a busca por respostas das dúvidas existenciais, muitas vezes, é explicada pela religião. Mas como é a convivência de pessoas próximas com crenças opostas?

A jornalista e ex-aluna da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Unoeste, Taíne Paco Correa, escolheu o espiritismo como fé. Criada em uma família católica, ela buscou sua própria religião. Depois de assistir aos filmes Nosso Lar e Chico Xavier em 2010, a jornalista se identificou com os preceitos da doutrina espírita.
Apesar das crenças opostas, a aceitação da família foi tranquila e Taíne não encontrou dificuldades para seguir sua religião. “Respeito a escolha da fé de cada um, assim como gosto que respeitem a minha”, defende.
Para a estudante do 5º termo de Publicidade e Propaganda, Isabela Takenaka, a diferença de crenças em seu namoro não atrapalha a relação. A jovem é budista e convive com seu namorado católico. Ele, Márcio Hideki Mori, gosta de manter diálogos para ter novos pontos de vista.

“Religião nada mais é do que uma ideia, devemos debatê-las, confrontá-las e buscar fragilidades em nossas crenças para fortalecê-la e expandirmos nossa visão de mundo”, pontua Márcio.
O casal nunca teve conflitos causados pelas religiões e conseguem falar abertamente sobre suas crenças. “Cada um frequenta a sua. Ele sabe que se quiser, pode ir na minha”, esclarece Isabela.
DIFICULDADES
Porém, o privilégio da aceitação não acontece em todas as relações. O estudante do 3º termo de Jornalismo, Abner de Souza Eraclide, já enfrentou dificuldades por escolher o catolicismo como religião. A mãe do jovem é evangélica, e, apesar de respeitar a crença do filho, não consegue aceitar as práticas da religião dentro de casa.

Durante a Páscoa, por exemplo, há alguns anos, o jovem guardou uma amostra de água benta, ato que foi motivo suficiente para o início de uma discussão.
“É algo que às vezes ela bate de frente comigo e a gente acaba brigando”, relata Abner. Por isso, apesar da falta de consenso entre as crenças, mãe e filho concordaram em não infringir a religião um do outro.
NOVOS PONTOS DE VISTA
Segundo o professor de filosofia e teólogo, Rafael de Campos, a dificuldade de aceitação de outras crenças é ocasionada por uma visão tradicionalista da existência de apenas uma religião correta, que de alguma forma, pensa em conservar algo valioso para as próximas gerações.
O teólogo explica que entre a relação familiar, temos que estar aptos a conhecer outros pontos de vista. Essa atitude de compreender e dialogar o máximo possível com ideias contrária e divergentes, sem nos perdermos nas ideias alheias, torna a mente alargada para entender tudo a nossa volta.
“Uma vez que alguém partilha dessa capacidade de compreensão, escolher uma religião ou permanecer naquela imposta desde a infância será uma atitude saudável”, esclarece Rafael.
Atualmente, para Rafael, a espiritualidade tem se configurado com uma busca incessante pelo amor. Esse seria o único dogma ou regra como crença, pois nela, não há templos, dízimos, sacerdotes e toda ornamentação e rigor que pedem as instituições. “É dito por esses novos espiritualistas que ‘o amor vale mais que a religião’, na verdade ‘o amor é a única religião que vale’”, conclui o teólogo.