Músicas antigas são preferência das novas gerações

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 Fabiana Vernize e Ágata Vieira (edição), especial para Escola de Comunicação
23/05/2022 às 9h45

Coleção de toca-fitas com músicas antigas inspiram Laís Siqueira a ouvir canções dos anos 70, 80 e 90 (Foto: Cedidia/Laís Siqueira)

Música antiga não é música velha. Na verdade, é bem atual e está nas playlists dos mais jovens. Foi essa a conclusão de uma pesquisa, que observou a preferência das gerações recentes por músicas de até 60 anos atrás. O interesse por canções antigas não é aleatório e tem explicação.

Legenda: Os estilos preferidos de Maurício são o jazz, bossa nova, músicas de louvor e até trilha sonora de filmes (Foto: Ágata Vieira)

“Gosto de cantar e ouvir músicas que compactuem com aquilo que eu acredito, e eu vejo isso nas músicas do passado. Gosto de ouvir canções que falam que amizades reais são possíveis, que a vida é bonita mesmo que às vezes seja injusta, que existe amor verdadeiro, apesar de parecer só uma ilusão”, esclarece Laís Siqueira, 20, que desenvolveu o interesse por cantar a fim de levar essa mensagem às pessoas.

O estudante de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Unoeste, Maurício Britez Saraiva, 21, compreende a relevância da antiga cultura musical. “Vivemos um momento em que as pessoas se sentem nostálgicas, sentindo falta de quando não havia pandemia nem guerra, de quando a política não dividia a família e destruía amizades. Saudades de um tempo em que falar não implicava em cancelamento e ofensa generalizada.” Para ele, essa saudade reflete o interesse por músicas que falavam de tempos mais harmônicos. “Pelo menos enquanto nossa sociedade continuar caótica do jeito que está, creio que essa tendência vai permanecer”.

De acordo com o saxofonista, Paulo Moreira, 46, além de conteúdo e rico vocabulário, “as músicas dos anos de 1960 a 1990 tinham o objetivo de deixar uma mensagem gravada”. O músico lembra do período ditatorial no Brasil, em que as composições eram usadas como forma de protesto. “Marcou uma época, fez história e tem, portanto, grande importância social”.

Legenda: Paulo participa do projeto Black Piano, cujo objetivo é ressaltar a importância histórica dos negros na música brasileira (Foto: Paulo Moreira/Cedida)

CONSUMO VOLÁTIL

Grandes compositores brasileiros, que repercutem internacionalmente e contribuíram para moldar a cultura musical nacional, surgiram nas décadas de 70, 80 e 90. Segundo o músico e professor, Everton Tomiazzi, isso se deve à alta qualidade da música brasileira, produzida por nomes como Tom Jobim, Gal Costa e Vinícius de Moraes. “Músicas de décadas passadas foram elaboradas de maneira muito mais explorada, com poemas mais trabalhados. As letras eram longas e de cunho apreciativo”, analisa.

O aspecto volátil das produções atuais, segundo Paulo, é devido à nova finalidade que a música ganhou com a indústria cultural. “Antes, o desejo era de que a mensagem fosse o mais longe possível. Hoje, o objetivo é a música chiclete. Tudo é pensado para que, na primeira vez que você ouvir, fique grudado na cabeça”, Paulo explica. O músico percebe que “cada vez mais, busca-se ritmos que estimulem os sentidos do indivíduo sem que ele tenha que pensar ou refletir sobre a letra”. 

O que eterniza canções antigas, segundo Laís, é que elas contam uma história, seja ela triste, feliz ou engraçada. “As pessoas se identificam com o que é cantado e acabam ouvindo por muitos anos.” Se o fim da música tocada atualmente é o lucro, “as novas gerações estão recorrendo ao passado. E então ouvem músicas antigas que contam histórias que elas não viveram, mas com letras tão atuais que reverberam no presente”, observa Paulo.

Legenda: Maurício toca “Wishing”, de Alexis Ffrench. Diz que se pudesse escolher uma década para viver, ele escolheria os anos 60 – Vídeo: (Maurício Saraiva/Cedido)

CONTRAPONTO: MÚSICA ANTIGA E MÚSICA ATUAL

Então, pode-se dizer que a música atual está condenada? “Não! Existe muita música boa. Porém, ela não chega até nós tão facilmente como as produções da indústria cultural. Temos que procurar”, conta Paulo.

Para Everton, o que é difundido hoje é composto por letras curtas, muitas repetições e degradam os sentimentos da sociedade de forma geral. “É preciso tomar cuidado. Há músicas que deixam valores duvidosos no subconsciente. A pessoa quer ter um amor, mas o consumo musical dela diz totalmente o contrário. Então o que ela vai atrair? O que ela está consumindo o tempo todo”, defende Paulo.  Ele explica que música é energia e afeta diretamente a nossa vida, com boas ou más energias a depender daquilo que se escuta.

“Boa parte da indústria de música mudou o foco de ‘ser bela e agradável’, ‘induzir à reflexão e à apreciação’, para simplesmente suprir os desejos primitivos do ser humano”, avalia Maurício sobre preferir o estilo retrô. No entanto, ele reconhece que há música de qualidade sendo produzida hoje e é otimista. “Espero poder expandir meu gosto musical, e não diminuir”.

Laís partilha desta esperança. A estudante também aprecia as músicas da própria geração, mas sob uma condição: “desde que elas espalhem alguma alegria, esperança, notícia boa. Desde que elas contenham uma história que mude a vida de alguém.”

“Ela [a música] é válida se ela causa alguma coisa dentro da gente que nos torna pessoas melhores”, afirma Laís.

COMO CHEGOU ATÉ AQUI?

Foi no final dos anos 90 que a internet se tornou acessível à população. Segundo Paulo, a nova tecnologia ajudou as gerações vindouras a terem mais contato com músicas mais antigas. “Antes era muito difícil. Não havia tanto material, como partitura. Os músicos dependiam da pura percepção musical. Já para os ouvintes, era difícil adquirir CD e baixar música. Ouvia-se tudo no rádio. Com o toca-fitas, tinha que esperar o locutor anunciar a música que ia tocar já com o dedo posicionado no ‘rec’ para conseguir gravar”, lembra o saxofonista.

Contudo, a internet não é a única responsável. Maurício e Laís compartilham uma lembrança em comum: música no carro. “Estávamos sempre ouvindo as músicas em um pen drive, com vários sucessos, como de Elton John, Phil Collins, A-HA, ABBA, Michael Jackson, Bee Gees, etc”, conta Maurício. Para Laís, a soma da música com a história dos avós influenciou o gosto musical dela. “No carro, eles sempre tinham CD’s das melhores canções dos anos 70, 80 e 90. Era da época de quando eles se conheceram e, como eu sempre fui muito criativa, vinha um filme da vida deles na minha mente e a música se tornava a trilha sonora.”

Legenda: Laís canta “Can’t help falling in love”, de Elvis Presley. “Essas músicas eram a trilha sonora perfeita para a história de dois protagonistas que eu conhecia muito bem.”, diz Laís, se referindo aos avós – Vídeo: cedido/Laís Siqueira

NOVAS VERSÕES, NOVAS GERAÇÕES

As novas versões, criadas a partir de uma música original, são um importante meio para aproximar a música do passado das gerações atuais. “O jovem ouve a música, gosta e fica com a dúvida: ‘quem canta’. E então vai procurar e acaba conhecendo mais sobre a história”, explica Paulo.

 [LINK DO CANAL DO YOUTUBE, PLAYLIST DO PROJETO BLACK PIANO: https://youtube.com/playlist?list=PLXuDDtp0-Pav1ve5CP-7QI7yuMj-YDw4X]

Maurício diverge e diz que não vê propósito em alterar uma música, mas reconhece que novas versões são uma forma de revivê-la. “Músicas não estão mortas, são registros imortais. Mas às vezes encontro algo interessante feito com base em músicas antigas”, afirma, citando o exemplo do cantor Michael Bublé, que o estudante considera referência em novas versões.

“Existem versões de músicas antigas que numa roupagem nova ficaram incríveis!”, diz Laís. Mas ela pondera e acredita que nem todas as canções se encaixam em mudanças. “Às vezes, a original é linda demais, só na original passa aquele sentimento.”

Sejam elas novas versões ou originais, essas músicas marcaram não só uma época, mas vidas. Everton destaca que graças à alta qualidade de letra, melodia e riqueza de arranjos, músicas de décadas passadas permanecem marcantes até hoje.E você? Também curte músicas de décadas atrás? Compartilhe no Instagram da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais.

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