Músicas evocam emoções; entenda como isso ocorre no cérebro

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Fabiana Vernize e Ágata Vieira, especial para Escola de Comunicação
26/08/2022 às 18h

Raul Seixas, Marcelo Jeneci e os grupos Coldplay e Elevation Worship são lembrados pelas músicas que marcaram momentos da vida de Bianca e Nathalia (Foto: Polygram, Som livre, Capitol Record e Elevation Worship Records)

A música mal começa a tocar e de repente brota um sorriso, lágrimas começam a nascer ou até uma risada descontrolada toma conta. Tudo por causa de algum momento, uma pessoa, uma viagem, um período da vida. 

“A música tem a capacidade de nos trazer lembranças, mesmo que cada um a perceba de maneira diferente, já que as sensações são diversas”, explica a psicóloga Joselene Alvim. As lembranças, segundo a profissional, podem estar relacionadas à letra, a um determinado evento ou até a uma pessoa o que permite reviver as emoções sentidas um dia. 

As circunstâncias que foram marcadas por uma melodia são importantes de alguma forma para o indivíduo, então são armazenadas pelo cérebro. “São situações que foram significativas num determinado momento e, portanto, há mais facilidade de estarem acessíveis na memória”, Joselene elucida.

Várias são as músicas que fazem Bianca Alves relembrar algum momento da vida, mas a jornalista de 22 anos, formada pela Escola de Comunicação e Estratégias Digitais, tem as “queridinhas”. “Músicas do Raul Seixas me recordam alguns momentos da minha infância”, conta Bianca. Em festas, churrascos ou dias em família as músicas do cantor eram a trilha sonora da jornalista. “Sempre que as faixas dele estavam tocando em casa, era porque iríamos fazer algo legal”, relembra Bianca.

As músicas “Metamorfose ambulante”, “Eu nasci há dez mil anos atrás” e “O dia em que a terra parou”, de Raul Seixas, marcaram momentos especiais em família e são as favoritas de Bianca (Foto: Cedida/Bianca Alves)

“Quando eu escuto Million Little Miracles, do Elevation Worship, eu me lembro de todos os momentos da minha vida em que eu fui abençoada com um milhão de pequenos milagres”, lembra Nathalia Salvato, 22 anos. A estudante de Jornalismo da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais se refere aos milagres quase imperceptíveis do dia a dia, como ter conseguido uma bolsa de estudos para cursar Jornalismo e quando conseguiu estágio mesmo não acreditando ser capaz. “Essa música representa pra mim uma lembrança do cuidado de Deus comigo”, reflete Nathalia.

“Nenhuma das vezes que eu vivenciei esses pequenos milagres eu merecia. Ele [Deus] me deu muito mais e continua me abençoando até hoje com pequenos milagres diários”, conta Nathalia. (Foto: Cedida/Nathalia Salvato)

CÉREBRO + MÚSICA = EMOÇÕES

Músicas estão gravadas no coração e grudadinhas com memórias especiais. É muito curioso o poder que uma melodia exerce nas pessoas. Parece mágico ser transportado para um momento específico no tempo com poucos acordes. Agora, como será que as emoções surgem a partir dessa mistura? Vamos entender como o cérebro processa a música?

Várias estruturas cerebrais estão envolvidas no processamento das canções. “O córtex temporal armazena o ritmo, a melodia e a harmonia. O lobo frontal possibilita o pensar sobre o som”, Joselene explica a trajetória da música no cérebro. 

O estímulo musical aciona outras regiões do cérebro, dentre elas o sistema límbico, também conhecido como cérebro emocional. Esta região será responsável por analisar tudo o que foi processado até então de forma emocional. A amígdala cerebral é a protagonista da vez. “É uma estrutura que faz parte do sistema límbico e processa as emoções, modulando e regulando-as”. Assim, a amígdala é responsável pelas reações emocionais, sejam elas negativas ou positivas, a depender de como associamos a música aos momentos da vida. “Por isso que a música tem o poder tanto de equilibrar como de desequilibrar nossas emoções”, reforça a psicóloga.

“Conheci uma amiga na escola quando tínhamos 7 anos e estudamos juntas até os 13 anos de idade, quando, infelizmente, ela morreu de leucemia”, Bianca relembra o momento triste. Nas homenagens que fizeram a amiga, utilizaram a música Aos Olhos do Pai e, por isso, Bianca não gosta de ouvi-la hoje em dia. “Eu me recordo dela e de como foi aquele período que ela ficou doente e faleceu”, conta a jornalista.

Já a música Felicidade, de Marcelo Jeneci, provoca o efeito oposto no coração da jornalista e traz uma mensagem positiva. “Dançar na chuva quando a chuva vem, mostra que, uma hora ou outra, os problemas vão surgir, mas que podemos aprender com eles ou até mesmo aproveitá-los de alguma forma”, analisa Bianca.

Devido à memória de longo prazo é possível que acontecimentos tristes e felizes sejam lembrados e vinculados às músicas que ativam tais lembranças, como o Natal em família de Bianca (Foto: Cedida/Bianca Alves)

Embora as músicas The Only Exception, do Paramore, e Paradise do Coldplay sejam lindas para Nathalia, não trazem boas emoções à estudante. “Lembram de uma época que eu tinha amigos diferentes e de uma pessoa que eu não sou hoje, então não gosto de ouvir hoje em dia”.

Bianca interpreta as canções que marcaram memórias como um filme. “Consigo me lembrar exatamente dos momentos vividos, ter emoções boas ou ruins, sentir o que senti no momento que elas me marcaram e também criar novos sentimentos e memórias para elas”. 

A letra é importante, mas, para Nathalia, não é ela a responsável por transformar uma melodia na trilha sonora de alguma cena da vida. “A fase em que você conhece tal música faz com que ela fique marcada de forma mais intensa”, compreende a estudante.

“Paz, gratidão e alegria” é o que Nathalia sente ao ouvir músicas que relembram momentos especiais, como o estágio que conseguiu na Band. (Cedida/Nathalia Salvato)

MEMÓRIA QUE CURA

Se já é bom relembrar momentos que jamais poderão ser vividos novamente, imagine ter a possibilidade de ser curado por eles?

“A música tem uma relação estreita com as emoções. Há pacientes com demências que acessam a memória através de algumas músicas que os marcaram, possibilitando assim a ativação neural”, explica a psicóloga Joselene. 

“Eu adoro! Acho essa capacidade do nosso cérebro e organismo algo incrível!”, exalta Bianca. A grande influência da música na cura de doenças, principalmente psíquicas, no aprendizado e desenvolvimento do ser humano é o que mais fascina a jornalista. “Além disso, dão um sentido especial à vida, aos momentos e às memórias”, declara Bianca.

Além de ajudar na recuperação de certas doenças, músicas especiais para memória estimulam neurotransmissores como a dopamina (nosso centro de prazer), serotonina, ocitocina e endorfina, de acordo com a psicóloga. “A música tem o poder de transpor barreiras emocionais ou auxiliar o indivíduo a se reorganizar internamente”, destaca Joselene.

Tal como nos filmes, Nathalia acredita que a música divide a vida em fases. “Ter uma música para representar cada uma dessas fases faz com que lembremos com emoção, seja ela boa ou ruim. Faz parte de quem fomos um dia”. 

Confira a playlist das músicas especiais para Bianca e Nathalia

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