Em campo ou em frente às câmeras, a luta feminina no mundo dos esportes

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Ana Laura Rena, Rayane Pedroso e Sara Sant´ Anna Silva
18/02/2022 às 11h

Arte: Matheus Rossetto

Entender o papel da mulher de modo que ela ocupe seu lugar, ganhe seu espaço e não seja isenta daquilo que tem vontade apenas pelo gênero é uma luta de muitos anos. Assim como em várias outras áreas da vida, no que envolve o esporte, a presença feminina ainda é pouco vista e muito subestimada, seja ela em campo ou em frente às câmeras comentando sobre o assunto.

O esporte, historicamente, é tido como masculino, de virilidade, mas isso não é natural e é esse pensamento retrógrado que precisa ser mudado, é o que defende a técnica de futebol e futsal feminino do município de Presidente Prudente, Leniza Garrido.

“A luta da mulher atleta é de longa data, aliás, das mulheres de forma geral e em todos os setores e modalidades. A luta é por respeito, igualdade salarial, equidade, melhores condições de trabalho, apoio (patrocínios), visibilidade. Enfim, são vários fatores que as mulheres pouco a pouco vêm conquistando, porém lentamente”.

Um dos problemas que Garrido percebe entre suas jogadoras é o preconceito dentro de casa. “Recebo meninas que gostam de jogar futebol, tem talento, mas a “família” afasta ou coloca a menina em outra modalidade que seja “para menina”, isso ainda esconde muitos talentos”, aponta a técnica. Além disso, ela destaca a falta de incentivo de modo geral, a dificuldade de realização de competições femininas, patrocínios e premiações em dinheiro que, segundo Garrido, para as meninas é pouco ou nada.

Para a técnica, tudo é questão de reconhecimento. Para atingir patrocinadores grandes que possam contribuir para eventos maiores, bem estruturados e premiados de forma justa, é necessário ter visibilidade. “O futebol [feminino] tem sido televisionado, mas ainda é muito pouco pelo que a mídia pode fazer”.

Outra situação destacada por ela é referente ao amadorismo, as meninas que atingem a idade de trabalhar têm que escolher entre o trabalho e o esporte, pois fica difícil conciliar os dois. Os treinos são feitos à noite após o horário de serviço e participam de competições aos finais de semana, para que elas consigam continuar no esporte. “Os clubes elitizados que disputam campeonato Paulista e Brasileiro (falando do futebol que tem mais visibilidade) ainda tem atualmente algumas jogadoras com carteira de trabalho assinada, são profissionais de futebol, recebem salário, porém são poucas. A grande maioria joga a troco de ajuda de custo e faculdade ou a troco de nada”, lamenta.

Trajetória

“Iniciei tarde, mas pude aproveitar o pouco tempo de atleta e me apaixonar ainda mais pela modalidade”, conta Leniza, que começou em 1998 jogando futsal e futebol até meados de 2004. Ela, como as meninas fazem até hoje, praticava as duas modaidades, pois não se tem atletas o suficiente para ambas. 

Em 2005 já era auxiliar do técnico Sebastião Carlos, o Porto, como chama carinhosamente, e desde então faz parte da comissão técnica. “Até 2015, em algumas oportunidades, estive com a equipe que foi comandada por outros técnicos, mas era voluntária. Em 2016 fui efetivada pelo concurso público municipal para técnico desportivo e aí assumi as equipes de futsal e futebol feminino do município”, conta.

Atualmente conta com meninas de 7 a 45 anos entre alunas iniciantes e atletas. Já nas competição, estão presentes as seguintes categorias: sub-16, sub-19 e adulto no futsal e sub-17 no futebol.

Para Garrido, a maior dificuldade é a desconfiança da competência feminina no ramo e, ao contrário do que se espera, o amigo e excelente profissional Porto sempre a colocou na frente para comandar e nunca fez diferença por ela ser mulher. “Isso me deixou mais segura e apaixonada pelo esporte. Vencemos a desconfiança com o trabalho, ajudando jovens a se desenvolver e a colocar o esporte como parte importante na vida”.

Por essa determinação em sempre apostar em novas ideias, a técnica já enfrentou muitos olhares de estranheza durante o período em que trabalhou em escolas. Para ela, ali é um começo perfeito, pois possibilita a prática democrática de todos os esportes. “Devemos ter bons argumentos e persistir na defesa da prática democrática, pois o esporte é para todos”, completa.

No jornalismo

Quando se trata de jornalismo esportivo a falta de confiança é a mesma. Simone Gomes, apresentadora e editora do Fronteira Notícias 2ª edição, da TV Fronteira, afiliada Rede Globo, conta que já trabalhou na área em Rondônia e São Paulo e, apesar de reconhecer momentos em que foi tratada com mais leveza e empatia, não descarta os lugares e situações em que foi constrangida por ser mulher. 

Hoje em dia, acredita que seja bem mais tranquilo seguir por esse ramo do jornalismo, pelo menos na nossa região, porém ainda há o que ser conquistado. “Somos pressionadas a provar nosso conhecimento sobre esporte o tempo todo e qualquer deslize podemos ser muito mais criticada do que uma falha cometida por um homem”, afirma.

Para chegar até aqui, num momento em que cada vez mais mulheres estão interessadas pelo esporte, quando todos podem ver que elas têm condições de seguir por esse caminho, Simone recorda o preconceito que tiveram que enfrentar. “O preconceito tanto dentro dos veículos quanto por parte do público. É que antes muitos homens não viam com bons olhos a presença feminina na cobertura esportiva, por acharem que mulheres não entendem do assunto ou pra não perder a característica, já que é um meio dominado pelos homens”, conta.

Por todas essas lutas e várias outras que ainda terão de enfrentar com bravura, a jornalista acredita que com o passar do tempo essa situação se normalize de vez e a mulher possa ser respeitada por sua capacidade.

“Não desistir jamais. E sempre se impor. Não deixar passar nada batido. Mas sempre tratando as pessoas com muito profissionalismo e respeito. Humildade sempre!”

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