Magia dos mundos fantásticos ensina valores a leitores na vida real

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Fabiana Vernize e Ágata Vieira, especial para Escola de Comunicação
26/05/2022 às 8h

“Ler histórias fantásticas me dá ideias para criar, dá esperança, alegria, e me tira de problemas do mundo real”, declara Pedro (Foto: Cedida/Pedro da Silva)

Quem nunca teve vontade de dar uma pausa nesse mundo para viajar e conhecer outros universos, não é mesmo? Personagens tão reais que parecem amigos, histórias que prendem do início ao fim, mergulhar nas possibilidades da imaginação. E se eu te contar que essa fantasia é mais real do que você imagina? Os mundos podem até ser fantásticos, mas junto com Pedro, Gabriele e Victor, você vai descobrir que o seu sonho de viver a fantasia na realidade já está acontecendo.

Pedro Ivo da Silva ainda aguarda a carta de Hogwarts e tem certeza que ela se perdeu em algum lugar por aí. “Mas eu já estou preparado com a minha varinha, esperando sempre”, assegura o jornalista de 24 anos, formado pela Escola de Comunicação da Unoeste. Ao ler os livros da saga Harry Potter, o guarda-roupa de Pedro tinha um dono. “Eu usava camisetas da saga e trabalhava sempre com um broche da Corvinal, que é minha casa.” Até no trabalho Pedro dava um jeito de não desgrudar da história. “Escondia alguns easter eggs sobre Harry Potter em alguns trabalhos que eu fazia”.

O jornalista não apenas gosta, mas se sente um dos personagens. Mais especificamente no caso dos livros do escritor Tolkien, ele se considera um anão. “Eu brinco hoje em dia que eu sou um anão por às vezes ser ranzinza, gordão, beber e comer como os dos livros, e não ser o mais alto dos amigos”, Pedro justifica a simpatia pelo personagem.  

Os colares das relíquias da morte, do vira-tempo da Hermione e o anel do Senhor dos Anéis fazem parte dos acessórios de Gabriele Zampoli, 18 anos, estudante do 1° termo de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Unoeste. “Eu até já pintei um quadro com a montanha de Velaris, do livro  Corte de espinhos e rosas. Também ficava desenhando as runas [linguagem rúnica] dos Caçadores de sombras no meu braço”, conta Gabriele.

“Dezesseis luas” foi o primeiro livro de fantasia que Gabriele leu. Ela pediu emprestado para uma amiga, adorou a história, e desde então é fascinada por fantasia (Foto: Cedida/Gabriele Zampoli)

A fantasia é tão real que alguns nem se imaginam mais sem ela. “Eu não sei quem eu seria se nunca tivesse lido Percy Jackson”, é o que afirma Victor Mello Cabrera, publicitário formado pela Escola de Comunicação e Estratégias Digitais. O entusiasta dos universos fantásticos de 25 anos frequentava tanto as livrarias que ficou popular entre os vendedores, até que foi chamado por um deles para participar de um grupo de leitura. Então, a fantasia rendeu muito mais do que uma boa leitura e Victor descobriu que o amor presente nos livros estava mais próximo da realidade do que ele imaginava. “Conheci minha namorada enquanto estava preso no jogo caça bandeira, após ser atingido por uma espada de espuma. Mesmo depois de 7 anos de namoro, ela ainda brinca que me bateu fraco demais”, lembra Victor.

LITERATURA FANTÁSTICA, BENEFÍCIOS FANTÁSTICOS

Tem magia forte no ar! Quem acha que fantasia faz parte dos delírios da mente, nunca sentiu o poder de parar tudo, viajar para outro universo e depois voltar para a realidade. E há testemunhas: os próprios leitores. Os sintomas são os mesmos e eles sentem na pele até hoje as qualidades de uma boa fantasia. Será que você também já foi enfeitiçado? Confira! 

1) REPERTÓRIO MAIS RICO E REPLETO DE NOVOS CAMINHOS

O caminho é longo, a trajetória é árdua, mas com o repertório certo, você nunca vai se perder.

A literatura fantástica, para Pedro, é a que mais abre portas. Além de enriquecer o repertório, ela inspira outras leituras de qualidade. “A fantasia pode te levar a ler ficção científica, pode te inspirar a ler clássicos ou querer estudar história. O repertório de conhecimento, de palavras, de expressão que a fantasia traz é inigualável”, analisa o jornalista.

Novos caminhos são descobertos por meio da fantasia. Para Victor, “ler fantasia representa tudo que nossos diferentes ‘eus’ gostariam de ter vivido. É uma oportunidade para que a gente viva coisas fantásticas e impossíveis.” O publicitário defende que a realidade não precisa ser um fim em si mesma e cita uma frase que enfatiza o poder da pluralidade de possibilidades da fantasia: “Tudo é considerado impossível até acontecer.” 

Apesar de a fantasia prevalecer, as histórias ainda abordam situações que podem acontecer no mundo real, pondera Gabriele. “Muitos livros vão tratar de problemas familiares, relacionamentos abusivos e crimes. Essas abordagens servem tanto para melhorar a compreensão desses acontecimentos no mundo real, como para serem usadas numa redação”, explica a estudante.

2) EMPATIA: O ELIXIR DA FORÇA

Ninguém vence sozinho. Vivemos em grupo e a vitória é fruto dessa boa convivência. A empatia, portanto, é o elixir da força. O caminho até o objetivo fica muito mais agradável com ela, é o que dizem as testemunhas.

“Como nos livros fantásticos existem os mais diversos seres, de todas as etnias, culturas, religiões, gêneros e que em algumas vezes são destratados por suas diferenças, podemos enxergar o preconceito ali e ter empatia pelo sofrimento dele”, elucida Gabriele. A estudante entende que é trazendo a empatia construída na fantasia para o mundo real, onde pessoas ao redor sofrem os mesmos tipos de preconceitos, que “conseguimos ser empáticos com a vivência delas”.

“O ser humano é um animal fraco. Nós achamos que somos todos especiais, mas não! E, muitas vezes, a gente vê isso na fantasia”, Pedro defende. De acordo com o jornalista, a empatia é fruto da humildade que se desenvolve com a literatura fantástica; estar ao lado de criaturas mágicas, monstros e anjos coloca o ser humano numa situação de impotência. A humildade surge por reconhecer as vulnerabilidades e a empatia advém de perceber que o outro, por mais diferente que seja, também sente dores e enfrenta batalhas. “Se eu consigo sentir empatia por um personagem ficcional, eu também consigo sentir por uma pessoa do meu lado”, pondera.

As histórias, para Pedro, são como uma meditação. “Se eu estou lendo os livros do Tolkien, eu estou na Terra-Média. Se estou lendo as crônicas do Patrick Rothfuss, eu estou sentado na taberna dos personagens dele.” (Foto: Cedida/Pedro da Silva)

3) TODO HERÓI PRECISA DE UM “DETOX” MENTAL

Se existisse uma fórmula que resolvesse todos os problemas da sua vida, quanto você pagaria? E se eu te dissesse que a fórmula está na sua estante? Essa fórmula nunca se esgota, pelo contrário! Quanto mais você lê, mais potencializa o efeito na sua mente.  

Participar de uma revolução, lutar uma guerra ou acompanhar histórias dentro de uma taverna. É um leque de opções apenas aguardando a ordem do destino final, determinada pelo leitor ou, no caso, por Victor. “Ler para mim é viajar. É especial e traz uma sensação única para cada página que lemos”, o publicitário acredita.

“Vivemos em um mundo muito chato e com problemas que, às vezes, não tem como serem resolvidos de maneira imediata. Ficar 24h pensando nisso só vai enlouquecer”. Pedro já descobriu a fórmula do “detox”. “Sentar, pegar um livro que está descrevendo campos verdejantes ou a brisa da manhã que marinheiros sentem em um barco é como estar lá. Você se acalma, se recarrega, esquece por um segundo dos problemas”. 

Melhor do que excluir os problemas é se sentir capaz de resolvê-los. A fantasia, para Pedro, não é apenas fuga, é um universo de possibilidades para a vida real. “Quando volta pro mundo real, está mais calmo, com as ideias no lugar e com mais criatividade para resolver a vida”. É, parece que a magia das fantasias transcende as páginas mesmo, não é?

4) SABEDORIA, ESSA É A MISSÃO

Se a missão é a sabedoria, a solução está dentro de um calhamaço encadernado cheio de palavras, histórias e personagens. É fácil de encontrar, mas o verdadeiro desafio está em quem lê; é preciso ler com a alma e absorver cada ensinamento. Mas não desanime, uma vez conquistada, a sabedoria é sua para sempre!

Pelo fato de adentrar universos que funcionam de maneira diferente do nosso, o leitor de fantasia é apresentado a “informações e curiosidades científicas, de astronomia, de elementos geográficos, de línguas diferentes, culturas, religiões e vários outros elementos que consegue extrair das narrativas”, defende Gabriele.

“É muito interessante, que depois de um tempo lendo, a gente começa a perceber que está usando coisas que aprendemos com os livros.” Pedro analisa e cita exemplos da sabedoria adquirida, como fazer uma conta, contar uma história, tocar uma música e até no modo de falar com pessoas. 

De todos os benefícios, o principal, segundo Victor, é que “ninguém tira de você o que você vivenciou.” Por ser um ato individual, o publicitário defende que a forma como absorvemos a história desenvolve no leitor uma perspectiva única de cada situação.

Victor não tem preguiça de ler novas sagas e esse ano iniciou uma série de 22 livros no total, que se passam no mesmo universo (Foto: Cedida/Victor Cabrera)

5) LIBERTEM AS DIFERENÇAS, O VILÃO É O PRECONCEITO

Preconceitos não são um “privilégio” só dos meros mortais. Antes de ir lutar, os personagens têm que vencer longas batalhas dentro de si mesmos.

Antes de aceitar as diferenças de fora, Pedro acredita que é preciso “entender e amar as suas próprias”. O jornalista explica que o habitual é olharmos para o nosso grupo e só aceitarmos aqueles que se encaixam nele, demonstrando medo, preconceito e ódio dos diferentes. Porém, na fantasia isso acaba a partir do momento em que se é exposto à realidade. “Começamos a aprender sobre ela e vemos que não é errado, não é inferior, só diferente”, esclarece Pedro.

Elfos, bruxos, fadas, deuses e tantos outros personagens moram nas fantasias literárias, sendo que cada um tem as suas respectivas peculiaridades. “Quando lemos, somos apresentados e levados a aceitar eles como eles são e a entender que não tem problema ser diferente do ‘normal’”, compreende Gabriele. 

“Trono de vidro” é a saga preferida de Gabriele (Foto: Cedida/Gabriele Zampoli)

A FORÇA ESTÁ COM VOCÊ!

Uma hora é preciso retornar e enfrentar a realidade. Mas ninguém é o mesmo após os encantos e ensinamentos de uma fantasia. As forças são renovadas e os desafios não são tão impossíveis assim.

Gabriele conta que momentos difíceis foram enfrentados com a ajuda da fantasia. “Poder ler uma saga era o que me fazia bem e me permitia sobreviver os dias”. Não importava o quão ruim fosse a situação, Gabriele sabia que sempre poderia fugir e ficar pelo menos uma hora distante dos problemas. “Isso foi de extrema importância pra mim na época. Até hoje, são aos livros que eu recorro quando estou num período difícil ou querendo ler algo que me conforte”.

“Estava me sentindo perdido, estava me sentindo sem nada, sem lugar”, Pedro conta, referindo-se ao final do ensino médio, quando passou por fases difíceis. Foi neste período que o jornalista começou a ler as obras de Tolkien e se sentiu representado, com forças para persistir. “Na história, os anãos [coletivo para um povo mágico] estão em busca do que é deles por direito, eles estão procurando um jeito de voltar para casa e ter os pertences deles novamente. Eu me identifiquei muito com eles”

Victor declara que aprende com os erros dos outros. “Ler utopias e distopias me ajudam a compreender intenções e comportamentos. O inconsciente consegue traçar esses paralelos e nos ajuda a identificar padrões”, explica o publicitário. 

‘Você vive lendo, mas é só essas coisas de fantasia que não levam a nada’, é o que as pessoas costumam dizer, segundo Pedro. De acordo com ele, muitos acreditam que existe literatura boa e ruim, útil e inútil. O jornalista discorda. “Eu já tive preconceitos com muitas coisas bobas, mas todos foram quebrados depois de eu ler histórias fantásticas e refletir sobre o assunto”, enfatiza a importância do estilo literário. “As redações que me deram uma vaga na faculdade e uma bolsa de estudos foram porque eu tinha bagagem de tanto ler essas “historinhas”. Ler muda vidas. Ler fantasia cria novas.”

E aí, será que você também foi enfeitiçado pela magia dos livros de fantasia? Conta lá no Instagram da Escola de Comunicação quais “sintomas” você já teve.

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