Fabiana Vernize e Ágata Vieira, especial para Escola de Comunicação
06/05/2022 às 12h10
Com tanto tempo sem sair de casa, aposto que filmes, séries e lives ganharam o topo da sua lista de hobbies. Acertei? Pois é, e não foram só os seus hábitos que mudaram.
A área da produção audiovisual foi uma das mais afetadas pela pandemia da Covid-19, com queda de 3,8% em 2020, segundo Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2021–2025. Porém, por outro lado, o setor tem se recuperado. A pesquisa também aponta que a previsão de crescimento do mercado global das mídias audiovisuais é de 6,7% para 2022, com uma média de crescimento de 5% ao ano até 2025. Os investimentos na área podem chegar ao valor de US$ 38 bilhões.
“A pandemia impactou vários mercados de forma negativa. Com o audiovisual não foi diferente. Produtoras que tinham trabalhos agendados ou que estavam em curso e que exigiam um número grande de equipes tiveram que pausar ou cancelar seus projetos”, analisa o professor da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Unoeste e publicitário, Renato Pandur. Por outro lado, novas opções foram exploradas e apresentaram crescimento, como as lives e videocasts. “Esses canais que eram vistos até então como ‘ferramentas de apoio’ acabaram se tornando um bom caminho para suprir as demandas reprimidas da área”.
Para Erick Aguiar, 22 anos, estudante de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação, a perspectiva do audiovisual é positiva e o fator que leva ao crescimento esperado é o olhar mais contemplativo das organizações para as relações interpessoais. “Observa-se que as campanhas de grandes empresas se tornam cada vez mais ‘humanas’ e relacionáveis, sem a necessidade de grandes orçamentos para produções megalomaníacas”.
O crescimento e desenvolvimento do audiovisual tem sido notado em diversos âmbitos, como observa Greysson Suzuki, 24 anos, publicitário formado pela Escola de Comunicação e Estratégias Digitais e contratado pela Unoeste pelo Nead (Núcleo de Ensino a Distância). O EAD, para ele, é um desses reflexos. “As videoaulas dão ao aluno a possibilidade de assistir à aula várias vezes. Além disso, animações podem ser feitas no vídeo e facilitar a compreensão do conteúdo. As aulas também costumam ser mais dinâmicas por conta da inserção de músicas e transições, colaborando para cativar a atenção do espectador”.
TENDÊNCIAS
Renato considera a existência de “ondas” do momento e, muitas vezes, são chamadas de tendências, como as lives e os videocasts hoje. “A técnica continua sendo a mesma, o que muda são os meios e algum ponto estético de acordo com o público com o qual se deseja se comunicar”, ressalta.
Como editor freelancer, os trabalhos de maior demanda para Greysson são vinhetas, identidades videográficas, edição de vídeos institucionais e promocionais e animações para vídeos curtos. O publicitário também reconhece a tendência dos vídeos 360°. “São vídeos mais imersivos, o que é uma característica do meio virtual”.
A realização de uma formatura online foi um dos trabalhos mais inusitados para Greysson. “Nunca pensei que faria algo assim no audiovisual, me surpreendeu”. A modalidade era mista: havia convidados presenciais e a distância. Porém, ele lembra que os participantes online se sentiram como se estivessem presencialmente no local. “Todos estavam vestidos de acordo, com vestido, maquiagem e gravata, só que no ambiente doméstico.”
Independente da tendência, o diferencial na área audiovisual sempre será o domínio da técnica, defende Renato. “Se você for um roteirista, precisa dominar a técnica da escrita, dos recursos narrativos, saber contar uma boa história dentro de um arco bem organizado, porém, não precisa ter conhecimento sobre como posicionar a câmera, luz ou fazer uma edição de vídeo; essa será a função do profissional da área técnica”. De acordo com o publicitário, é primordial ter excelência na área que está executando a respectiva função, lembrando sempre da essência da produção audiovisual. “Planos, microfonação e narrativas são recursos que você vai usar sempre, independente de tendência”, defende.
LAZER QUE VIROU PROFISSÃO
O interesse surgiu aos 15 anos e foi quando Erick começou a estudar sobre audiovisual. “Li a biografia de Glauber Rocha e tive contato com o movimento do Cinema Novo. Fiquei cativado imediatamente e logo comecei a colocar minhas poesias em movimento.” Junto de um amigo, ele criou uma série chamada Cidade&Arte, na qual gravavam tanto poesias quanto viagens e experiências. Executando esse projeto, Erick percebeu o que realmente gostava de fazer.
Greysson Suzuki também imergiu cedo no universo do audiovisual. Hoje trabalha na área do audiovisual, porém, desde os 12 anos já editava. Ele começou a enxergar a importância do trabalho que fazia quando compreendeu que estava atuando em uma área muito valorizada e então começou a cobrar pelo trabalho. “É uma área com muita demanda, em que os profissionais cobram um preço alto, principalmente devido aos equipamentos de qualidade e ao tempo de trabalho”.
O estudante produz conteúdo para o EAD (Ensino a Distância) da Unoeste e já observa a prosperidade do meio. Ele percebe que é uma forma muito mais fácil de estar no meio acadêmico sem ter que ‘abrir mão’ de tanta coisa, uma vez que é a distância. “Parece até que as pessoas se sentem mais à vontade digitando pelo chat do que falando pessoalmente; elas interagem mais no EAD”.
QUALIDADE DA PRODUÇÃO
Todas as etapas são muito importantes na criação de um audiovisual, mas será que alguma se destaca? Para Erick, essa etapa é a produção. “Quando está em execução, o projeto corre quase que sozinho, seguindo o que a produção preparou”, argumenta. É na produção que são decididas as direções que o projeto seguirá e quais os objetivos a serem atingidos. “Um projeto mal produzido dificilmente consegue atingir seus objetivos mais concretos”, ressalta.
Renato reconhece a importância do audiovisual na comunicação, mais especificamente dentro das organizações. A construção do material, porém, vai além de apenas ‘fazer um vídeo’. “Tenha sempre em mente que um vídeo isolado de um contexto não fará muita diferença. Muitos prestadores de serviços em comunicação vendem uma ideia isolada que o vídeo vai ser a salvação da lavoura. ‘O negócio agora é fazer vídeo’. Claro, é um recurso altamente poderoso, porém não é algo que deva ser tratado de forma simplista”.
Segundo o professor, a produção de um material audiovisual envolve etapas, processos e técnicas muito específicas. “Com a facilidade que temos hoje em dia de pegar um celular e sair filmando tudo, temos essa sensação de que fazer um vídeo é algo simples e rápido. Claro que, se você deseja lançar nas redes sociais algo factual, pontual e que necessite de agilidade, o caminho realmente é esse. Mas se uma empresa pensa em trabalhar uma imagem institucional, descrever a funcionalidade de um serviço, vender sua marca por meio de um storytelling…aí a coisa é mais embaixo.”
Mais do que ligar a câmera, é preciso planejamento
O vídeo não termina no momento que desliga a câmera. Tratando-se de comunicação, Renato explica que tudo exige planejamento. Ele exemplifica que, muitas vezes, uma empresa gasta muito dinheiro produzindo um vídeo, mas esquece de que para promovê-lo são necessárias outras ações de comunicação. O resultado disso é a frustração do cliente e o surgimento dessa ideia de resistência ao recurso do audiovisual.
Greysson visa destacar a parte prática dos vídeos e avalia que o diferencial para a produção audiovisual de qualidade é a técnica. “Ter variedade de equipamentos bons já é algo que faz uma grande diferença.” Erick, que já estagia na área, afirma que o audiovisual está no horizonte do futuro profissional dele. “O audiovisual, para mim, é um meio para traduzir outras artes. Ele transforma o método do resgate histórico em arte e é democrático enquanto plataforma discursiva. Esses motivos me mantém firme na produção audiovisual”.
Com o mundo virtual em crescimento, a maioria dos internautas consome ao menos algum tipo de audiovisual. Qual é o seu preferido? Compartilhe no Instagram da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais.